Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ANNA CARDOSO DUARTE GALLO
ANNA CARDOSO DUARTE GALLO
Em 2004, voltei a procurar Dona Annita, minha amiga, que do alto dos seus 96 anos prestou-nos novo depoimento, mas não muito diferente de um outro realizado em 2 de dezembro de 1985. E precisamente aos 20 de abril de 2005, recebi das mãos da nobre anciã, não uma outra cópia, mas, sim, o manuscrito original de Cardosina, hoje pertencente ao “Acervo Ernesto Nazareth” .
ACERVO ERNESTO NAZARETH. Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro;
No prédio da Rua Larga (Avenida Marechal Floriano), alguns médicos homeopatas tinham consultório, dentre estes um Dr. Soares de Meirelles, parente do Ernesto Nazareth. E o Ernesto Nazareth estava sempre em nossa farmácia. E talvez seja daí, das visitas dele ao parente médico, que tenha se dado a aproximação dele com o meu pai.
Eu nasci em 20 de julho de 1909, e meu nome de solteira era Anna Pinto Duarte Almeida Cardoso. Por volta de 1917, minha família morava à Rua Monte Alegre, nº 329, em Santa Teresa. E era nesse endereço que nós recebíamos o Ernesto Nazareth. Meu pai comprou um piano de armário, vindo diretamente da Alemanha, um Steck, de três pedais, o que era uma novidade para a época ou, pelo menos, para mim, pois foi o primeiro que eu vi desse tipo. E era nesse piano, presenteado à minha irmã Maria, a “Miquinhas”, que ele tocava. Ele nos visitava sempre aos domingos. Chegava por volta das oito e meia, nove horas da manhã. E era eu quem abria a porta para ele e lhe dava um beijo. À hora do almoço, papai tocava no ombro dele, levava os dedos à boca e assim ele, que era muito surdo, entendia que o almoço estava pronto. Eu, às vezes, chegava por de trás dele e gritava:Uh!... E minha mãe ficava por conta... Eu fazia isso para assustá-lo, mesmo sabendo que ele não ia escutar mesmo... Coisa de criança... Eu o chamava de seu Ernesto. Depois do almoço, ele e papai iam para a varanda conversar. Ele gostava muito de vinho do Porto. Às vezes, ele acabava cochilando na varanda. Anos mais tarde, por volta de 1927, nós nos mudamos para o palacete que ainda hoje está de pé, à Rua Joaquim Murtinho, nº 297 (atual nº 115). Nesse endereço, acredito que ele jamais tenha nos visitado. Também não me lembro dele em meu casamento com Mário Gallo, em 19 de julho de 1930. O pessoal brincava comigo dizendo que eu troquei o Pinto do meu pai pelo Gallo do meu marido. Papai e mamãe eram portugueses. Ele nasceu em 30 de setembro de 1877, em Frende, Conselho de Baião. Chegou no Brasil com onze anos. Faleceu em 19 de março de 1964. Mamãe era de São Romão de Aregos. Nasceu em 18 de setembro de 1880 e faleceu em 15 de maio de 1956.
Anna Cardoso Duarte Gallo
GALLO, Anna Cardoso Duarte. Entrevista concedida ao autor. RJ, 31 de março de 2004;
Dona Annita faleceu de causas naturais, em seu apartamento à Rua Silvio Romero, bairro de Santa Teresa, no dia 17 de março de 2006. Viúva, tinha 98 anos e não deixou filhos.