Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CARMEN TEIXEIRA E SILVA
CARMEN TEIXEIRA E SILVA
Meu pai se dava com a nata da intelectualidade de sua época: Guilherme de Almeida, Humberto de Campos, Catullo, Mello Moraes, Di Cavalcanti, etc. Catullo chegou a se hospedar em nossa casa, poucos anos antes de Nazareth. Ele (Jacintho) foi um dos fundadores da Biblioteca Pública Municipal e seu diretor de Divisão, até se aposentar. Nós tínhamos um piano de armário, onde o Nazareth tocava todos os dias. Bastante tempo. Tinha um quarto só para ele e um terço pendurado na cama. Ele rezava sempre o terço, à noite. Ninguém interferia quando tocava ou estudava. As vezes, ele tocava para que eu dançasse, ficando a me observar pelo reflexo do tampão do piano. Dona Nonoca, minha mãe, tratava dele muito bem. Não era muito de brincadeiras, mas brincava com a gente. Ele estava muito surdo. Tinha que se falar alto com ele. Educado, sempre bem vestido, nunca sem gravata. Nazareth só tocava Nazareth. Inclinado, muito concentrado. Mantinha-se com o dinheiro dos recitais. Falava baixinho, com voz mais para o grave. Geralmente deitava cedo. O doutor Fragoso ía sempre ter com ele. Eu acho que ele (Fragoso) tocava violão e o Nazareth o acompanhava.
Carmen Teixeira e Silva
TEIXEIRA E SILVA, Carmen. Entrevista concedida ao autor, por telefone. RJ/SP, 14 de agosto de 1989;