Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
EULINA & MERCÊDES (1917)
EULINA & MERCÊDES (1917)
Aos 30 anos, sem pretendentes, vivendo exclusivamente para o trabalho e a família, Eulina já não acreditava mais que no campo sentimental de existência tão metódica e previsível quanto à dela, algo de interessante ainda pudesse acontecer. Estava enganada!... Pois, ao iniciar, nesse ano, amizade com a professôra gaúcha Maria Mercêdes Mendes Teixeira, de tradicional família de militares, poucos anos mais nova, feições não muito atraentes, temperamento sóbrio e palestra prolixa e agradável, mal poderia imaginar, a filha de Ernesto Nazareth, os novos rumos que o destino lhe reservava.
Entusiasmada, chegou a pedir ao pai que dedicasse a uma colega “a quem devia favores” aquela “mazurca sem nome” que ele guardava entre seus manuscritos. Nazareth atendeu prontamente, preferindo, contudo, não dedicar a obra à Maria Mercedes, mas somente batizá-la com o nome da moça. Eulina, aproveitando a oportunidade e procurando também ser gentil com o tabelião Huascar Guimarães, que já lhe prestara grandes obséquios, inclusive ao autenticar uma série de documentos referentes a seu histórico escolar, conseguiu que a mesma música fosse a este dedicada.
Tudo, entretanto, estava indo bem, até que a assiduidade com que Maria Mercedes passou a freqüentar a casa dos Nazareth, por insistência de Eulina, criou certo clima de descontentamento que culminou, para surpresa geral, com a saída de Eulina de casa, por sua própria iniciativa. Foi um escândalo!... Àquela época, moça de família sair de casa para morar sozinha, já era o fim. Imaginemos, então, a mesma moça deixando seu sacrossanto lar para viver com outra!... Ernesto chegou a dizer:
- Essa criatura é uma nuvem negra que pairou sobre a nossa casa!...
Ernesto Nazareth
SARAIVA, Maria Alice da Silva Pinto. Entrevista concedida ao autor. RJ, 8 de setembro de 1985;
No transcorrer de uns poucos meses (e nada como um dia após o outro!...), Maria Mercêdes, com seu caráter e conduta absolutamente irrepreensíveis, foi reconquistando a simpatia (e alguma compreensão...) de Ernesto e Theodora Amália; chegando, até, a ser parceira do compositor em algumas músicas, na condição de letrista.
O relacionamento entre as duas terminou somente em 1969, quando do falecimento de Maria Mercêdes. Foram, portanto, 52 anos de amor, respeito, carinho e amizade. E nas fotos, por mim guardadas, vê-las juntas quando moças, na meia idade e, finalmente, bem velhinhas, não deixa de me sensibilizar até hoje.
Quanto à “solteirice” das eméritas professoras, acredito que isso jamais as tenha prejudicado social ou profissionalmente, especialmente no caso de Eulina, que alcançou as mais prestigiosas funções junto à educação primária do Rio de Janeiro.