Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
FRANCISCO ALVES (1929)
FRANCISCO ALVES (1929)
Enquanto se procurou registrar em discos somente músicas de Ernesto Nazareth cujos direitos ainda pertenciam ao autor (e que também não eram os seus maiores sucessos!), todo o processo transcorreu sem maiores complicações. Porém, quando o mesmo interesse recaiu sobre peças já negociadas (antigos sucessos, tais como Odeon, Bambino e Brejeiro...), as coisas complicaram, vez que alguns editores “cresceram os olhos” e resolveram cobrar valores muito além dos praticados para liberação dos “seus” títulos. Resultado: reduziram-se drasticamente as gravações.
Porém, em dezembro, na voz de Francisco Alves, ainda saiu pela Odeon nº 10.518, o “tango” Favorito; alcançando, na ocasião, grande sucesso, segundo testemunhou meu saudoso amigo French Gomes da Costa.
Composto em 1895, Favorito recebeu, alguns anos mais tarde, letra de autor não identificado, cujos versos, que chegaram a ser atribuídos a Catullo da Paixão Cearense, foram aproveitados pelos cantores Mário Pinheiro e Eduardo das Neves (“Amor avacalhado”) em discos gravados pela Casa Edison (Odeon). E quanto à letra cantada por Francisco Alves, trata-se da mesma interpretada pelo Neves, mas com algumas “enxugadas”.
Não se sabe, no entanto, a opinião do compositor a respeito desses versos. Todavia, no meu entender, ele pode até não ter gostado, mas uma coisa é certa: nem mesmo o exigente pianista se queixaria do intérprete, pois ter qualquer música gravada pelo “Rei da Voz”, era, verdadeiramente, uma consagração.
FAVORITO - LETRA
I Parte
Meu amor se tu queres saber
Qual a razão deste meu padecer
Por que motivo me ausento de ti
Oh, vem escutar-me aqui...
Não é medo meu bem, qual o que!
Eu já te digo qual a razão
Pois se eu tenho paixão por você
Dou sempre o fora no melhor da ocasião.
II Parte
Tens um pai que é de temer
O que me faz sofrer (Bis)
Perder o senso até!...
Você sabe como é...
Se ele descobre que eu vou lá...
Tenho mesmo que fugir
Pois não dou para o fubá.
I Parte
Tua mãe, ai Jesus, não sei mais
Que lhe dizer, meu amor, de teus pais
Tu tens por mãe uma velha feroz
Que do inferno caiu entre nós
É perversa, é cruel, é um azar
E não me dá uma folga sequer
Coisa pior não se pode encontrar
Nem o diabo quis ficar com essa mulher
II Parte
Quando em noite de luar
Tu fores, formosa, (Bis)
Ao fundo do jardim
Vê se te lembras de mim
Quando eu pulava o teu quintal
Eu ficava frio e sério
Sem que seu pai desse por tal
I Parte
Teus maninhos me pedem tostões
Sujam minhas roupas, me arrancam os botões
Mas tu não sabes que é natural
Eu bem sei que não é por mal
Mais não posso, a despesa é demais
Cair no Mangue é melhor, minha flor,
Crio alma nova e tu ficas em paz...
Saúde ou fica, se deseja o meu amor.