Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
À CASA DO ADMINISTRADOR
À CASA DO ADMINISTRADOR
Eulina visitava o pai sempre às quintas-feiras, 15 horas. O compositor, acompanhado por um enfermeiro, Bento ou Necar, aguardava-a na casa do administrador, situada no segundo pavimento da sede daquela centenária fazenda (hoje ameaçada de desmoronar, por absoluto descaso por parte do Patrimônio Histórico). Inclusive, existia, ali, um piano da marca Lux, vertical, pertencente a filha mais velha de Almeida.
As vezes ele trocava algumas palavras com a filha (Eulina), outras vezes nada dizia ou só reclamava. Eles sempre tomavam um lanche servido por mim. Eu era a governanta da família Almeida. Naquele piano, ele costumava tocar, as vezes direito, outras vezes confundia e misturava a parte de uma música com a parte de outra... Mas, quando a peça era mais conhecida, mais “batida”, ele tocava corretamente. As vezes ele nem falava com Eulina. Ficava o tempo todo dedilhando alguma coisa no piano.
Elza Medrado
MEDRADO, Elza. Entrevista concedida ao autor. Colônia Juliano Moreira, RJ, 12 de setembro de 1985;
Homem educado, fino, cuidava da roupa, gostava de sair limpo. Ele andava de linho branco, sapato branco, gravata borboleta e chapéu de palheta. Estava sempre alegre, mas falava aos pedaços. Usava, já no meu tempo, uma bengala. Seu andar era trôpego, por causa da doença que o desequilibrava. Nazareth almoçava no pavilhão, no qual estava internado. Mas, parece-me, que ele jantava, todas as noites, na casa do administrador, acompanhado pelo médico residente. E, depois do jantar, ele sempre tocava no piano da filha do Almeida. Quando Nazareth punha-se a tocar, deixava de ser um doente para ser um músico. Isso acontece com aqueles que são geniais.
Heitor Carpinteiro Péres
CARPINTEIRO PÉRES, Heitor. Entrevista concedida ao autor, por telefone. RJ, 21 de outubro de 1989;