Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
MORRE FERNANDO (1916)
MORRE FERNANDO (1916)
Sem dúvida, o pior Natal que a família Nazareth vivenciou foi o de 1915, quando, pouco antes do dia 25 de dezembro, Fernando, irmão do compositor por parte de pai, sofreu um pequeno acidente, mas que resultou em sua morte.
Fernando de Meirelles Nazareth tinha um sonho: ser advogado. A família, contudo, não possuía os recursos suficientes para tal objetivo. Viu-se, então, o belo rapaz, de 17 anos, diante da necessidade de trabalhar para arranjar os cobres que o ajudariam a alcançar e manter-se junto à Faculdade de Direito.
Tempos depois, entusiasmado por ter conseguido se empregar em boa firma e precisando de um novo par de sapatos, resolveu ir à cidade a fim de comprá-lo. Mas, na estação do Méier (bairro onde morava com os pais, à Rua Dias da Cruz), sem paciência para aguardar que o trem no qual embarcaria rumo à estação D. Pedro II (Central do Brasil) parasse completamente, pulou para a escadinha no fundo do vagão, chocando-se com um passageiro que, por sua vez, deixava a composição no exato momento. Resultado: Fernando caiu entre os trilhos e a parede da plataforma, tendo o dedão de um dos pés ferido pela roda ainda em movimento do veículo.
Levado ao “Prompto Soccorro” (hoje Hospital Souza Aguiar), lá recebeu os primeiros cuidados e o diagnóstico de que seria necessário amputar-lhe o pé, vez que o ferimento, sujo de graxa, certamente iria infeccionar. Ciente disso, o pobre moço, ao mesmo tempo em que começava a se desesperar, viu passando um médico conhecido e gritou:
- Dr. Caires (Pinto) o senhor não me reconhece?... Sou eu, o Fernando, irmão do “Lulu” Leal, seu amigo!...
NAZARETH SISTON, Julita. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, s/d;
A princípio, ao reconhecê-lo, o médico levou um tremendo susto. Depois, inteirando-se dos fatos, pediu aos colegas que não lhe fizessem a amputação sem que antes entrasse em contato com os familiares do rapaz. E assim foi feito...
Papai, com muita influência, na época, conseguiu internar Fernando no Hospital Central do Exército, mesmo não sendo militar. Era o melhor hospital.
Paulo de Tarso Leal
LEAL, Paulo de Tarso. Depoimento por escrito feito especialmente para o autor. RJ, 12 de agosto de 1992;
Entretanto, como não existia, naqueles tempos, penicilina ou qualquer tipo de antibiótico, o ferimento, ainda que estivesse muito bem cuidado, acabou infeccionando e, portanto, fez-se necessária a amputação do pé. Não se conhecia, também, nenhuma forma segura de anestesia e o paciente teve que enfrentar a cirurgia lúcido.
Fernando, mesmo sentindo dores tremendas, não deu nenhum grito; mas, em determinado momento, antes de sofrer providencial desmaio, uma de suas mãos alcançou a parede e com as unhas descascou-lhe a tinta.
Julita Nazareth Siston
NAZARETH SISTON, Julita. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, s/d;
Mais tarde, o jovem desventurado ainda conseguiu forças para consolar “Joanninha”, sua mãe, com as seguintes palavras:
- Oh, minha mãe, não fique assim, tudo vai dar certo. Mesmo com uma perna de pau eu posso continuar levando uma vida normal!...
NAZARETH SISTON, Julita. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, s/d;
No entanto, infelizmente, a infecção continuou. Veio a gangrena e a necessidade de outra amputação: agora até o joelho. Fernando não resistiu, vindo a falecer em uma segunda-feira, 3 de janeiro de 1916.
Esculpidas na lápide de mármore branco de seu túmulo, no Cemitério São Francisco Xavier, ainda hoje podemos ler as seguintes palavras:
Saudade Eterna dos Seos Paes e Irmãos