Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CAROLINA AUGUSTA, ERNESTO E O PIANO
CAROLINA AUGUSTA, ERNESTO E O PIANO
A partir de 1850, graças, principalmente, ao desenvolvimento da marinha mercante, era fácil encontrar grande quantidade e variedade de pianos à venda na Capital do Império, possibilitando o barateamento de preços e, desse modo, sua aquisição por famílias de renda mais modesta. O Rio chegou, até, a ser chamado de “Cidade dos Pianos”, ou “Pianópolis”, pelo número desses instrumentos a deleitar (ou infernizar!...) a vida de seus habitantes.
Como em toda a parte, aqui também é o piano o instrumento predileto do povo educado. É raro faltar um piano em casa mais ou menos arranjada. Muitas vezes, ouve-se o som do piano em casas modestas, onde não se podia esperar esse móvel de luxo.
Hugo Bussmeyer
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967;
Carolina Augusta possuía um piano vertical, de pequenas dimensões, que lhe fora presenteado por seus pais, quando menina. Nele, assim como os irmãos, aprendeu a tocar praticamente sozinha, chegando a conquistar a admiração de alguns professores. E mesmo possuidora de mãos pequeninas e delicadas, executava com total desenvoltura o mais exigente repertório. Dos três irmãos, foi ela quem mais se destacou ao teclado, sendo seguida, em ordem de valor como instrumentista, por Ludovina, que também cantava no coro da Igreja de Sant’Anna, e Júlio Augusto, um inveterado “tocador de ouvido”.
Ainda que às voltas com responsabilidades de dona-de-casa e mãe, Carolina Augusta sempre continuou fiel à sua vocação artística. E para aumentar-lhe a felicidade, Ernesto já apresentava, aos três anos, forte inclinação para a música; ela própria passaria a lhe dar, mais tarde, juntamente com as aulinhas de alfabetização, as primeiras noções de piano.
A vida de Liszt, outro poeta do teclado, pela longevidade, é a que poderia servir de comparação à de Ernesto Nazareth. (...) O pai, dotado de grande musicalidade, não pôde, não se sabe por que motivo, atingir um grau artístico elevado. Mas nele existia a obstinação, e assim é que ficou deslumbrado quando compreendeu que o pequeno Franz lhe poderia substituir naquele idealismo fanado... Aqui, no caso do pequeno Ernesto, deu-se o mesmo em relação a sua mãe que, pianista dotada de qualidades excepcionais, não chegando por fatores diversos a seu objetivo, que era ser uma grande artista do teclado, pensou em transmitir ao filho querido todos os ensinamentos que com sacrifício adquirira.
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967;
Embora primo de Francisco Manoel da Silva, celebrado autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro, Vasco Lourenço não gostava nem um pouco da idéia de ver um filho seu tocando piano, pois considerava o instrumento mais apropriado ao sexo frágil; contudo, não seria ele quem proibiria tal situação, temendo magoar a esposa.
E para acrescentar à vida do modesto despachante mais preocupações, Vasco Júnior, o “Vasquinho”, passaria a se dedicar ao estudo de flauta e Maria Carolina, a “Nenê”, ao canto. É fácil imaginarmos as três crianças animando as noites no Morro do Nheco...