Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
NAZARETH E AS CASAS DE MÚSICA
NAZARETH E AS CASAS DE MÚSICA
As casas de música eram, obviamente, os estabelecimentos onde se comercializava tudo o que dizia respeito à música: instrumentos, partituras, literatura sobre o assunto, acessórios, etc; sendo muitas, também, responsáveis pela edição de obras.
Quanto à disposição interna, não existiam grandes diferenças entre uma casa e outra: na parte da frente, havia sempre os pianos e a presença constante de um simpático pianista a tocar as últimas novidades a pedido dos clientes (aproveitando-se desse expediente para chamar a atenção dos transeuntes); no centro, os eternos balcões e estantes vitrinados e, nos fundos, as dependências administrativas e de serviço. Algumas ainda vendiam artigos que não tinham relação nenhuma com música, tais como: água mineral, leite condensado, revistas de variedades, material para corte e costura, entre outras coisas.
Sabe-se que Ernesto nazareth, durante o século XIX, trabalhou em pelo menos duas casas de música, das quais só se conhece o nome de uma: Vieira Machado & Cia. E como não mantinha vínculo empregatício, tocava somente o necessário para conseguir os cobres que o ajudassem nas despesas diárias.
Nessa casa (assim como em todas as outras por onde desfilou o seu talento), tornou-se público e notório o fato de ser, o compositor, responsável pela afluência de muitas e belas pianistas, sempre atraídas por sua simpatia, elegância e charme.
Algumas moças, para receberem de tio Ernesto maior atenção, chegavam, mesmo, a lhe apresentar não apenas uma ou duas novidades para que ele tocasse; mas, sim, calhamaços de partituras, com músicas tanto novas quanto velhas.
Julita Nazareth Siston
NAZARETH SISTON, Julita. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, s/d;
Em todas as casas de música tinha amigos. Em todas ficava tocando por longo tempo. Adorava quem apreciava ouvi-lo sem pensar em danças...
Almirante
DIA (O). Ernesto Nazareth. Edigar de Alencar. Rio de Janeiro, 24 e 25 de março de 1963;
Duas outras funções, nunca lembradas, também exercia o nosso artista: escrever músicas para aqueles que não entendiam do “riscado” e revisar partituras daqueles que entendiam.
Nesse período, Ernesto Nazareth conheceu uma atividade salutar, que era a correção dos inúmeros exemplares; deu, aí, sobejas provas de espírito sadio, ativo, meticuloso. Tornara-se, então, no Rio de Janeiro, uma figura verdadeiramente notável.
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967;
Foi-se a época em que um Lino José Barbosa, da Casa Mozart, sabia atender, sabia interessar; em que um Oscar Rocha, de “Ao Pinguim”, fazia mais do que isso: guiava, orientava, abria horizontes, criava um ambiente. Hoje, a atmosfera de uma casa de música é indiferente, displicente, quase hostil.
Andrade Muricy
JORNAL DO COMMERCIO. Pelo mundo da música; vinte anos da morte de Ernesto Nazareth. (José Cândido de) Andrade Muricy. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1954;