Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
TURUNA (1899)
TURUNA (1899)
Inserido, por sua vez, entre as obras-primas de Ernesto Nazareth, encontramos o “grande tango característico” Turuna (Ch. nº 4.386), dedicado a mais um ilustre e desconhecido amigo, José Costa Machado d’Almeida, “em signal de profundo reconhecimento e alta consideração”, e cuja edição princeps saiu pela mesma E. Bevilacqua & Cia.
Segundo o Dicionário Aurélio, “turuna” significa: “negro poderoso”, “forte, valentão, destemido”, etc. E o nosso compositor certamente pensou, ao escolher este título para sua música, em uma figura muito popular do carnaval carioca, de então, residente lá pelas bandas da Saúde, Saco do Alferes ou Morro do Pinto, e que sempre se destacava à frente de algum cordão carnavalesco: o “maestro” Turuna.
Asclepíades Turuna, negralhão alto, gordo, cabeça raspada à navalha e revelando um microcefalismo deveras impressionante. Mãos enormes. Pés enormes. Beiçola enorme. É um gorila. Traja roupa de brim riscado em xadrez, côr-de-gaiola, e mostra, como singularidade, uma unha, muito comprida e muito bem tratada, longa, de uns três centímetros, nascendo de um dedo curto e grosso como um calabrote. Um dia, na regência da charanga, como lhe escapasse das mãos a batuta, dizem que Turuna regeu a música com a unha. É um tipo silencioso, tranqüilo. Não sorri. Quase sem gestos, morre de amores pela Casemira, preta fula que já lhe inspirou uma valsa em si bemol - Luar do meu amor - e uma schottisch em dó sustenido, para ocarina e piano - Foi ela quem me matou. Quando ele surge na sala, de batuta toda enfeitada com florzinhas de papel, a assistência delira. Vejamo-lo, agora, dando início ao ensaio das cantigas, muito teso, muito lustroso de suor, a vara da regência erguida no ar, o olho sentimental da negra Casemira:
- Vamo! Escola. Todos pruma só boca! As dâmias ao centro e os cavaeiros marchando em derredor do quadrilátero... Vamo!
Luiz Edmundo
EDMUNDO (de Melo Pimenta da Costa), Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. V Volumes. Livraria e Editora Conquista. Rio de Janeiro, 1957 (2ª Edição);
A partir dessa composição, surgiu uma pequena série de “tangos característicos”, constituída pelos seguinte títulos: Digo (1900), Batuque (1901), Mesquitinha (1914) e Sustenta a... nota! (1919), impresso, este último, simplesmente como “tango”.